Aqui jaz uma escritura.

Um texto sobre uma angustia.

Daniel Felipe

2/5/20251 min read

black pencil on black background
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Escurecendo a folha com riscos e traços que anseiam, mesmo escondidos, tímidos, poderem ser encontrados por alguém. Desejam leitura, mas se perturbam pela ideia de não os verem como são. De sentirem que os fizeram tortos demais, retos demais, agressivos aos olhares que, ofendidos, derramem seu interesse em qualquer outra coisa.

Assim perde-se todo meio, o fim.

Cai em justificado embaraço de traços que se confundem com o que foi criado antes. Lápides rasas e discretas, cravadas por pontas cegas que abriram outros veios no papel. Curvas incertas que, alheias às vontades da alma e das linhas, respeitam os músculos, o corpo.

Dão formas ao que é possível e riem das mais astutas e elevadas aspirações. Defendem-se. É preciso conter a violenta verdade que assumida ou negada, rasga o material da alma, desnuda o desejo. Me vejam, adorem, leiam, compreendam -me.

Em sentença, converta esses desastrosos traços em algo possível de sentir. Qual o sabor das palavras pronunciadas na indiferença? Como soa o silêncio no medo? A textura da rejeição?

É a fragilidade do grafite no atrito com o papel que permite o tingimento da folha, assim como a resistência do olhar irrompe os ângulos duros das letras e estas, vulneráveis, revelam a impossibilidade de serem lidas como são, pois se tingem de quem lê.